Presa ou Morta: o trabalho da mulher no tráfico de drogas
Tráfico de Drogas; Clínicas do Trabalho; Divisão Sexual do Trabalho; Trabalho Feminino
O objetivo da presente pesquisa é compreender o papel do trabalho da mulher no tráfico de drogas. Com o propósito de construir conhecimento a partir do diálogo entre os saberes sociais e subjetivos, bem como compreender as relações entre trabalho e subjetividade, utilizou-se a psicossociologia como aporte teórico e a trajetória de vida laboral como recurso metodológico. As entrevistas foram realizadas com duas mulheres indicadas pelo Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade. Levando-se em conta que a comercialização de substâncias psicotrópicas ilícitas se dá como uma atividade contínua e que tal operação envolve o controle de qualidade, regulação de preços, cobrança e pagamento de contas, salários, relações de trabalho, rede hierárquica e conquista de público/mercado – assemelhando-se ao comércio varejista formal, concebe-se que as ex-traficantes entrevistadas eram responsáveis pela gestão de uma cadeia de distribuição complexa, atuando como tomadoras de decisão em busca de oportunidades de maximização de lucro e minimização de risco, uma vez que ambas ocuparam uma posição hierárquica na organização em questão que ia além do operacional. Dessa forma, busca-se compreender a gestão e os processos decisórios em uma organização ilícita, bem como levantar questões acerca das condições e processos de significação do trabalho feminino no tráfico de drogas. Através dos relatos foi possível evidenciar a agilidade e a adaptabilidade da gestão dessa atividade, fatores que são de suma importância para o funcionamento de uma organização ilícita, em função de que sempre existem novos métodos de combate à suas atividades. Ademais, levando-se em consideração que o tráfico de drogas opera como um mercado neoliberal, o estudo evidenciou a forma como a autonomia na tomada de decisão deixa de ser uma ferramenta de emancipação do sujeito e passa a ser um instrumento de precarização do trabalho. Por fim, os relatos mostraram que as mulheres, com o intuito de obter validação do meio e de si mesmas através do valor de seu trabalho, se submetem de maneira mais intensa a fatores que se mostram como potenciais adoecedores, de forma que estão mais vulneráveis ao adoecimento.