A autoficcionalidade na criação dos personagens Varguitas e Pedro Camacho em La Tía Julia y el escribidor, de Mario Vargas Llosa
Crítica literárria. Literatura latino-americana.Vargas Llosa. Tia Julia e
o escrevinhador. Memória. Autoficção.
Nesta tese, desenvolvemos um estudo sobre as estratégias de construção da memória na
configuração dos personagens Camacho e Varguitas em La tía Julia y el escribidor de
Mario Vargas Llosa. Almejamos identificar e examinar os processos pelos quais se deu
a criação literária neste romance, assim como analisar o resultado desse processo nos
personagens escritores, tendo em vista o projeto do autor que afirma sua pretensão em
realizar, simultaneamente, uma autobiografia e a narração dos feitos literários de uma
pessoa que conhecera em sua juventude. Trata-se, em La tía Julia y el escribidor, de um
discurso deflagrado pela memória, sobre literatura e vocação literária, no qual se
concretizam, imersos na arte melodramática, os personagens escritores. Inicialmente,
identificamos a memória como protagonista da criação literária a partir da análise dos
termos “deicidio” e “demônio”, empregados por Vargas Llosa em García Márquez:
historia de un deicidio. Em seguida, demarcamos o tempo da enunciação do romance
em estudo: o presente em que o narrador efetuou um recorte no passado para torná-lo
ficção. Posteriormente, ao constatarmos que a pretensão autobiográfica do romancista
redundou em autoficção, analisamos a formação dos personagens escritores a partir dos
tipos de autoficção estudados por Vincent Colonna; especificamente no tipo especular,
examinamos o emprego das técnicas narrativas dos vasos comunicantes e da caixa
chinesa operadas por Vargas Llosa. Concluímos que os personagens escritores, soma de
memórias e desmemórias, servem à construção de uma imagem de “escritor”, de uma
ficção de si mesmo, e à apologia da vocação literária.