Os movimentos aberrantes nos contos de João Guimarães Rosa
movimentos aberrantes; Guimarães Rosa; Deleuze e Guattari.
David Lapoujade, professor de filosofia em universidades parisienses, editor e leitor de Deleuze e Guattari, é que institui o conceito de movimentos aberrantes para pensar a filosofia deleuze-guattariana. Na linguagem comum, o aberrante, em Português, está ligado ao que foge à normalidade. Mas a aberração enquanto movimento, em filosofia, vem a ser tudo aquilo que atravessa o pensamento, a vida, a natureza, a história das sociedades. É nesse sentido, que D&G se propõem a inverter o platonismo, construir um Anti-Édipo e novas formas de se fazer filosofia, pensando corpos sociais e máquinas desejantes. É nesse sentido que essa filosofia vem a ser uma verdadeira aberração; simplesmente porque ela nos retira do comodismo, livrando-nos das armadilhas da recognição. O pensar, na perspectiva D&G, é assim a arte de relacionar tudo o que diz respeito à vida, natureza, cultura, direito, política, capitalismo. Todas as formas de vida são máquinas que funcionam em cortes de fluxos. Muito semelhante a esse projeto deleuze-guattariano é o que Guimarães Rosa se propõe a fazer com sua linguagem literária. Já se viu, com Eduardo Coutinho, em seu famoso ensaio sobre a revitalização da linguagem em Guimarães Rosa, que a intenção do escritor era justamente a de atravessar o discurso ficcional da tradição brasileira. Nesse sentido, assim como operam D&G na filosofia, Rosa opera com cortes e rupturas na linguagem literária. Mas não é só em relação à linguagem que Rosa nos provoca, mas também em relação à crítica ao senso comum e aos modos de povoamento da terra. Ademais, pensar em termos de máquinas que operam cortes e fluxos como nos ensinam D&G é pensar todas as formas de artes, inclusive a literatura, como um plano de imanência.