A desconstrução do “cabelo ruim” e a aceitação do cabelo crespo natural: uma análise das imagens de si nos depoimentos de quem passou pela transição capilar
Análise do discurso; narrativas de vida; transição capilar; cabelo crespo; cabelo cacheado.
Nossa proposta de pesquisa busca entender algumas facetas de um movimento recente e crescente no Brasil e mundo a fora, principalmente entre as mulheres negras: o assumir o cabelo crespo e cacheado natural. Para isso, trazemos para a academia a necessidade de refletir sobre os possíveis imaginários sociodiscursivos construídos acerca da relação da mulher com o seu cabelo. Queremos compreender os motivos pelos quais – durante muitos anos – mulheres negaram suas mechas crespas, alisando-as com produtos químicos, e o que as levaram a assumir o natural. Nossa intenção com este trabalho é evidenciar os elementos que contribuíram para as decisões dessa via de mão dupla: primeiro o “não” ao cabelo crespo/cacheado e, depois, o “sim” às características afro. Nosso corpus é composto por e-mails escritos por mulheres que passaram ou estavam no processo de transição capilar . São relatos de vida enviados para o blog Cacheia! durante um concurso cultural realizado em parceria com o salão Mab Mais Cachos no ano de 2017. O concurso visou selecionar as autoras das histórias mais “impactantes” para ganhar um corte e um tratamento de cabelo, uma produção com maquiagem e um registro fotográfico profissional. A partir dos depoimentos, vamos investigar os sentidos produzidos por estas mulheres relacionados à transição e de que maneira essa mudança contribui para a (re) construção identitária das autoras dos relatos. O tema será analisado a partir de uma abordagem interdisciplinar: i) primeiro vamos entender como foram construídos os padrões de beleza brasileiro, além de refletir sobre racismo e feminismos. Com esses embasamentos, ii) desdobraremos nosso corpus a partir de referências pertencentes aos Estudos do texto e do discurso, principalmente, valendo-nos dos conceitos de narrativas de vida.