A voz da presidenta: a construção de ethé discursivos em pronunciamentos políticos
de Dilma Rousseff
Análise do Discurso; ethos discursivo; discurso político; esfera pública; gênero feminino.
Esta pesquisa tem como proposta analisar os ethé discursivos presentes em pronunciamentos políticos de Dilma Rousseff. A partir da seleção de três pronunciamentos, que representam e pertencem a momentos específicos e distintos entre si do governo da ex-presidenta brasileira, buscamos identificar as estratégias do discurso político e investigar de que forma elas foram mobilizadas para construir ethé discursivos. O tema se aproxima das discussões sobre discurso político, gênero feminino e imaginários sociodiscursivos. A análise dos pronunciamentos é conduzida a partir da coleta do corpus na mídia audiovisual. A decisão leva em conta aspectos polissêmicos importantes, como gestos, entonação e apresentação visual, que podem ser observados a partir da riqueza de detalhes que o audiovisual oferece. No percurso teórico, ancoramo-nos, inicialmente, em reflexões a respeito da democracia com Bobbio (1986) e Santos (2016), da esfera pública em Arendt (2014), Habermas (1984, 2011), Fraser (1990), Benhabib (1992), e do apagamento da mulher enquanto figura pública e política com Wollstonecraft (2016), Pateman (1993), Teles (1999) e Moraes (2003). Na sequência, discutimos as estratégias do discurso político a partir de Charaudeau (2006), Piovezani (2009) e Courtine (2006) e as relacionamos a algumas estruturas da argumentação estudadas por Amossy (2007, 2011, 2018), Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996), Ferreira (2010), Abreu (2009) e Maingueneau (2001, 2005, 2008). Olhamos também para a construção dos enunciados com Benveniste (1995) e da dimensão biográfica em discursos políticos com Arfuch (2010), Butler (2017) e Machado (2011, 2012, 2013). Na metodologia, conjugamos contribuições da Análise do Discurso de orientação francesa e da Argumentação para elencar categorias de análise. As análises apontam a existência de ethé comuns aos três pronunciamentos, bem como de ethé próprios a cada uma das situações comunicativas, responsáveis pela criação da imagem da personagem política. Vemos que a construção do ethos passa necessariamente por um meio interdiscursivo e se faz por recursos linguísticos, como imaginários coletivos a respeito do Brasil e da gestão pública, valores e antivalores, momentos biográficos. Todos eles convergem para a busca da legitimidade da presidenta. Observamos que a imagem de si de Dilma Rousseff é mobilizada, nos três pronunciamentos, de forma indissociável à defesa da democracia.