Mors certa, hora incerta: Figurações da Morte contemporânea em Bernardo Carvalho e Javier Marías sob o signo de Dioniso
Morte; Bernardo Carvalho; Javier Marías; Friedrich Nietzsche.
Morre-se mal no Ocidente, muito embora seja esse um necessário mal, sem o qual não haveria ocorrido o surgimento da Cultura. O medo da morte potencializa expressões nos mais diversos campos do conhecimento que nos unem enquanto organismo social. Parafraseando a Jean Delumeau, em História do Medo no Ocidente 1300-1880: uma cidade sitiada (1990, p.23), o pensador nos chama a atenção para o fato de que os animais não têm ciência de sua finitude; já os homens, pelo contrário, sabem desde muito cedo que morrerão; e, em vista disso, o homem-animal é “o único no mundo a conhecer o medo num grau tão temível e duradouro”. Esta pesquisa parte da premissa de que um estudo sobre a morte é, na realidade, uma reflexão sobre a vida: Recorda-te que morrerás é um tópico medieval que pode ser atualizado sob a égide nietzschiana da afirmação da vida. O conhecimento da morte é o conhecimento do indivíduo sobre si mesmo e sobre as infinitas possibilidades do mundo que o cerca. Desse modo, o objetivo principal deste estudo é o de investigar as figurações da morte nas literaturas dos autores Bernardo Carvalho e Javier Marías e para tal fim, serão analisados os romances Mañana en la batalla piensa em mí (1994) e Berta Isla (2017) de Javier Marías, além da obra Simpatia pelo demônio (2016) de Bernardo Carvalho. Em um segundo momento, buscar-se-á um diálogo entre a análise literária e o pensamento filosófico extemporâneo de Friedrich Wilhelm Nietzsche, desenvolvendo uma investigação sobre as afinidades entre as narrativas e os conceitos abordados pelo pensador e por outros filósofos que se aproximam de uma hybris dionisíaco-nietzschiana, privilegiando um diálogo entre Literatura, Filosofia e História – o qual tem no espaço literário o bom encontro para a expressão do interdito do morrer.