DE NÃO LEITOR A ESCULTOR: ESTUDO DO NÃO LEITOR DE ITALO CALVINO À LUZ DA POTÊNCIA DO PENSAMENTO
Potência. Impotência. Inoperosidade. Irnerio. Italo Calvino.
O romance Se um viajante numa noite de inverno, de Italo Calvino, comporta uma miríade de personagens leitores. O próprio protagonista é um leitor, inclusive no nome [Leitor], e outros tantos personagens leem porque possuem a leitura como atribuição profissional. Mas, dentre essa gama de leitores, destaca-se o “não leitor” Irnerio. Embora Irnerio se recuse a ler, da maneira como entendemos a leitura convencionalmente, ele estabelece uma relação com os livros ao transformá-los em esculturas e nesse processo acaba reinventando a atividade da leitura. Nesse viés, acreditamos que, apesar de arrogar para si a rubrica “não leitor”, Irnerio é um leitor em potência, que, no processo de passar sua potência de ler para o ato recorre à inoperosidade, fazendo com que o livro e a leitura se abram para novos usos possíveis, usos que respondem às suas vontades e desejos. Assim, partindo das considerações de Giorgio Agamben (2015, 2016, 2017, 2018, 2021) sobre os conceitos de potência, impotência e inoperosidade, esta pesquisa pretende investigar a natureza do personagem não leitor de Calvino, que por sua vez alude a outro personagem famoso da literatura: o escrivão Bartleby, de Herman Melville. Além disso, partiremos da ideia de que, assim como toda potência de ser/fazer é uma potência de não ser/fazer, todo leitor é, em algum grau, não leitor, e propomos uma classificação de tipos de não leitura (impossibilidade de ler; malogro; e inoperosidade), tomando os estudos de Pierre Bayard (2007) e Giorgio Agamben (2018) como referenciais teóricos para analisar os personagens do romance de Calvino.